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Texto: Galeno Lima / Fotos: Matheus Britto
Violência cai em Pernambuco com integração entre órgãos públicos de segurança, foco em gestão e investimentos em inteligência.
Os dois grupos que lutam pelo domínio do tráfico de drogas no bairro de Santo Amaro, em Recife, costumam não ter limites nas ações criminosas, mas respeitam uma fronteira.
Os Demônios da Ilha e a gangue do Campo do Onze reconhecem na avenida Doutor Jaime da Fonte, chamada pelos moradores de “Faixa de Gaza”, o ponto demarcatório de seus territórios.
É um símbolo da violência pernambucana, que pouco a pouco começou a ser enfrentada, com ação integrada do poder público, avaliação do cumprimento de metas e premiação daqueles que as atingiram.
No último Censo, de 2010, Santo Amaro tinha mais de 27 mil habitantes. Em 2007, o bairro registrou 157 assassinatos. Era um dos mais violentos da capital mais violenta do país.
A meta estabelecida pelo governo do Estado foi reduzir anualmente em 12% os “crimes violentos letais intencionais”: homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Esse número não foi por acaso.
“A curva de crescimento dos homicídios em Pernambuco nos 20 anos anteriores ficava entre 5% e 18%”, disse José Luiz Ratton, que foi assessor especial de segurança entre 2007 e 2012. “Nem no primeiro, nem no segundo ano as metas foram atingidas, mas não abrimos mão delas”, declarou.
Ratton é coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Criminalidade, Violência e Políticas de Segurança Pública (Neps) da Universidade Federal de Pernambuco. Dirigiu o Fórum Estadual de Segurança Pública, que reuniu especialistas, organizações da sociedade civil e gestores públicos para traçar os rumos da política estadual de segurança, batizada de Pacto pela Vida.
Os projetos foram sintetizados no Plano Estadual de Segurança Pública, documento lançado em maio de 2007, pelo então governador Eduardo Campos (1965-2014).
“O Pacto é baseado em três pilares: gestão, participação direta do governador e integração, não apenas das polícias, mas também do Ministério Público, do Poder Judiciário e de outros órgãos do governo do Estado”, afirmou Frederico Amâncio, secretário de Planejamento e Gestão de Pernambuco.
No último Mapa da Violência, que apresenta dados de 2012, o Recife caiu para a 251ª posição entre as cidades mais violentas. Pernambuco foi o único Estado do Nordeste em que a taxa de homicídios se reduziu progressivamente.
Em 2007, era de 53,1 por grupo de 100 mil habitantes. Em 2012, foi reduzida para 37,1 –queda de 30%. Essa foi a primeira vez que a taxa em Pernambuco ficou abaixo da média do Nordeste, de 38,9 assassinatos por 100 mil.
Nas reuniões de gestão integrada, o comandante da PM e o delegado da Polícia Civil da área que está sendo avaliada são chamados a responder conjuntamente pelos dados. “Criaram até grupos de WhatsApp para discutir uma área específica”, disse o secretário.
Policiais militares, civis e bombeiros das áreas que conseguem atingir as metas recebem bônus mensais nos salários, que podem ser de R$ 250, R$ 500 ou R$ 1.000, de acordo com a produtividade. A cada seis semanas a reunião é presidida pelo governador. Com a saída de Eduardo Campos, assumiu João Soares Lyra Neto (PSB).
“Há 15 anos, via assaltos aqui em que as pessoas chegavam a ficar só de cueca no ponto de ônibus”, disse Maria Denise da Silva, 52, que trabalha há 19 anos no mercado nas redondezas.
“A última vez que fui assaltada aqui faz dez anos”, afirmou Maria das Graças Pereira da Silva, 62. “Na época não chamei a polícia porque não adiantava”, disse a comerciante, que trabalha há 30 anos no bairro.
Santo Amaro conta há quatro anos com policiamento comunitário, parte do programa de governo batizado de Polícia Amiga. O capitão da PM Ozeas Ferreira afirmou que o objetivo da iniciativa é fazer a polícia se aproximar da população, identificando os problemas locais e atuando na redução de tensões que levam à violência. Embora o policiamento ostensivo represente uma tentativa de mediação de conflitos entre as comunidades que compõem o bairro, muitos moradores ainda temem os policiais.
“A partir do programa, a polícia passou a ter um diálogo mais aberto com as pessoas. Eles pararam de chamar os cidadãos do meu nível social de ‘cabra safado’”, afirmou Valdir de Souza Gonzales, 71, pescador que mora há 45 anos na região.
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